A menina Gabi, de Antônio Prado, acolhida na Domus, recebe um sopro de esperança: conseguiu doador para sua medula.
Veja abaixo, mais detalhes na reportagem de Silvana Castro e de Fabiana Serafin, do Pioneiro.
DOAÇÃO: ESPERANÇA PARA GABI
Caxias do Sul – Nos mais de dois anos em que a filha Gabriele Delazari Rissardi, seis, convive com a leucemia, Derli, 30, acostumou-se a ser surpreendida. Assim aconteceu quando a menina renascia a cada recaída tida como sem volta. A última boa surpresa de Derli veio na sexta: foi encontrado um doador de medula compatível para Gabriele.
– Levei ela para consultar e perguntei se estava tudo bem com os exames. A médica disse que tinha duas notícias para me dar. A primeira era de que poderíamos ir para casa, em Antônio Prado, passar o fim de semana. E a segunda que tinham encontrado um doador para a Gabi. Achei que nem iria conseguir ir para casa, e acabei ouvindo coisa melhor ainda, recorda Derli, viúva, ex-industriária e ex-faxineira que teve de largar o serviço para se dedicar integralmente à menina.
A comemoração pela compatibilidade da medula foi em uma churrascaria, ainda na sexta. Na terra natal, Gabi teve tratamento de estrela. A notícia espalhou-se. No Orkut de Derli, pessoas que acompanham a trajetória da criança deixaram mensagens emocionantes. Derli recebeu felicitações por telefone de gente que nem conhece pessoalmente. À mãe, a menina vaidosa, risonha e reservada com estranhos confidenciou:
– Mãe, vou te falar: hoje é o dia mais feliz da minha vida.
Ainda em tratamento, a menina fica dentro de casa, especialmente nos dias frios. Mas nada impede brincadeiras na rua e passeios. Ontem, Gabriele foi pela primeira vez ao cinema. A guria assistiu a Os Smurfs, em Caxias.
– Ela adorou, está toda empolgada com os Smurfs. Ganhou um cartaz para colocar no quarto – contou Derli após a sessão.
Gabi e a mãe estão hospedadas na Casa Domus, entidade de amparo à criança e ao adolescente com câncer. A responsável pela Domus é Chalise Machado Vieira, 25, que venceu a leucemia aos 14 anos. É Chalise quem mantém a casa alegre com a experiência de quem já enfrentou as agruras da doença.
– Me dá um autógrafo? Tem um horário disponível para mim na tua agenda? – brincou Chalise com Gabriele quando a menina havia recolhido o sorriso.
Apaixonada por computador e pelo mundo das princesas, Gabriele vence a todos em jogos como paciência e de cartas. A história dela emocionou tanto que, ao dizer em uma entrevista que seu sonho era ganhar de aniversário um laptop e uma máquina fotográfica, foi presenteada com um notebook e cinco máquinas. O computador é seu companheiro nos dias de internação.
A leucemia foi diagnosticada quando ela tinha três anos, no início de 2009. De lá para cá, foi submetida a ciclos de quimioterapia três vezes.
A menina sofre de leucemia linfócita aguda, um tipo de câncer de alto risco. O tratamento nos últimos dois anos não foi suficiente para combater a doença. Uma de suas recaídas ocorreu há mais de dois meses. A mãe achou que iria perdê-la. Mesmo debilitada fisicamente, Gabriele se manteve forte e devolveu a coragem à mãe.
– Estava com pneumonia, com água nos pulmões e os rins tinham parado. Disseram que dava para chamar os parentes, que ela não passaria daquele fim de semana. Ela me olhava, passava a mão no meu rosto. Mas foi se recuperando de uma maneira que ninguém acredita. Ela tem uma força, quer viver. Para ela, não está doente – recorda Derli com os olhos marejados.
Como a batalha ainda não terminou, Gabi aprendeu uma maneira de enfrentar as internações sem maiores traumas: conversa com todo mundo e não deixa a tristeza tomar conta. Assim, os dias no hospital passam mais rápidos.
SOS Domus – A entidade que ajuda as famílias de crianças portadoras de câncer também precisa de ajuda. Criada em julho de 2010, a Casa de Amparo à Criança e ao Adolescente com Câncer da Serra Gaúcha será ampliada. Mantida pela Associação Domus, a casa abriga pacientes de 48 cidades de abrangência da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde. A permanência na casa é durante o tratamento no Hospital Geral.
Contribuições em dinheiro podem ser feitas no Banrisul, agência 0180, conta corrente 06.181631.0-9 e CNPJ: 10.852.561/0001-72, em nome da AACC Serra Gaúcha Domus. A casa fica na Rua Doutor Roberto de Almeida, 471, bairro Universitário. Telefone (54) 3221.0849.
* Colaborou Fabiana Seferin
silvana.castro@pioneiro.com
SILVANA DE CASTRO *
O QUE É LEUCEMIA
- É uma doença maligna do sangue, que afeta prioritariamente a produção de glóbulos brancos.
- Leucemia aguda: ocorre quando a célula-tronco fica doente e produz células imaturas. É mais frequente na infância.
- Leucemia crônica: gera proliferação de células maduras. Pode se transformar em aguda.
- O pico de ocorrência costuma ocorrer entre dois e 14 anos e em idosos acima de 60 anos
O QUE É MEDULA ÓSSEA
É um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas.
SEJA UM DOADOR DE MEDULA
REQUISITOS
- Para se cadastrar, é preciso ter entre 18 e 55 anos incompletos. Para doar, ter entre 18 e 60 anos.
- Estar em bom estado geral de saúde (não ter doença infecciosa ou incapacitante).
O CADASTRO
- Moradores da região devem ir ao Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs): Rua Ernesto Alves, 2.260, Centro. O atendimento é de segunda a sexta, das 8h às 18h. Telefone: (54) 3290.4536/ 4538.
- No Hemocs, é preenchida uma ficha com dados pessoais. É preciso apresentar CPF e RG. São coletados 5ml de sangue, para o exame de histocompatibilidade (HLA). O exame identifica características genéticas necessárias para a compatibilidade entre doador e paciente.
- O HLA é incluído no Redome.
- Fazer o cadastro e coletar a amostra não demora mais do que 15 minutos. Esse cadastro é feito uma vez na vida e dura até o doador completar 55 anos.
- É importante manter o cadastro atualizado, para que o doador seja encontrado em caso de compatibilidade com algum paciente. Se houver qualquer alteração, basta atualizar pelo telefone (21) 3970.4100, pelo e-mail redome@inca.gov.br ou pelo preenchendo a ficha disponível em www1.inca.gov.br/doador
A DOAÇÃO
- Quando um paciente necessita de transplante e não há doador na família, o cadastro no Redome é consultado. Se for encontrado doador compatível, ele é convidado a fazer a doação. Se um doador não for encontrado no Redome são consultados, ainda, cadastros internacionais. O Bone Marrow Donors Worldwide (BMDW) centraliza os bancos de medula.
- Em caso de compatibilidade com um paciente, o doador é chamado para exames complementares e para realizar a doação. O estado de saúde do doador é avaliado.
- A doação é feita em centro cirúrgico, sob anestesia peridural ou geral, e requer internação por um mínimo de 24 horas. São realizadas múltiplas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia e é aspirada a medula. Retira-se um volume de medula do doador de, no máximo, 15%. Essa retirada não causa qualquer comprometimento à saúde.
- Nos primeiros três dias após a doação pode haver desconforto localizado, de leve a moderado, amenizado com o uso de analgésicos. Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais depois da primeira semana.
- Não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação.
- Os transplantes de medula óssea não são realizados em Caxias do Sul. O doador é chamado para fazer a coleta no centro de transplante mais próximo de onde estiver o paciente.
NÚMEROS
- Em todo o Brasil, cerca de 1,2 mil pessoas aguardam por transplante de medula óssea
- O país tem 2 milhões de doadores de medula óssea cadastrados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). O Brasil é o terceiro no ranking mundial, atrás apenas de Estados Unidos (5 milhões) e Alemanha (3 milhões)
- A chance de encontrar um doador compatível fora da família é de uma em 100 mil
- De cada quatro pacientes que buscam doador compatível entre irmãos, apenas um tem êxito
- A busca por um doador compatível de medula óssea por meio do Redome é em torno de quatro a seis meses, período semelhante ao registrado nos EUA
- No Hemocentro de Caxias do Sul há mais de 21 mil doadores cadastrados
- No Brasil há 65 centros para transplantes com doadores aparentados e 20 para transplantes com doadores não aparentados.
- Em média são realizados de 1,8 mil a 2 mil transplantes ao ano. Destes, 60% são autólogos (auto-transplante). Os 40% restantes são resultantes de doação de medula, tanto de parentes quanto de membros do Redome
- Em 2010, 165 transplantes foram realizados com doação via Redome. Em 2009, esse número foi de 135.
Fonte: fontes: Redome e Secretaria da Saúde de Caxias
Hemocs em Bento
Amanhã, uma unidade do Hemocs estará em Bento Gonçalves para cadastrar e coletar sangue dos moradores. A campanha é para ajudar Eduardo Borges Stringhi, sete anos, que tem leucemia. Os médicos consideram o transplante a única saída para a recuperação do menino, mas como ninguém da família é compatível, a ajuda da comunidade torna-se necessária.
Conforme a assistente social do Hemocs, Gloria Bauler, a intenção é coletar amostras sanguíneas de pelo menos 300 pessoas. Haverá coleta das 9h ao meio-dia e das 13h às 16h, na prefeitura. Podem se cadastrar e doar amostragem de sangue pessoas entre 18 e 54 anos. É preciso apenas levar documento de identidade.
Fonte: Jornal Pioneiro: Silvana Castro e de Fabiana Serafin