Quando seu filho reclama de dor no joelho após jogar futebol, é natural pensar em uma contusão ou "dor de crescimento". Mas e se essa dor persistir? E se o inchaço não diminuir? Alguns sinais que parecem comuns na infância e adolescência podem estar tentando nos alertar sobre algo muito mais sério, como o osteossarcoma.
O que é o osteossarcoma?
Ele é o tipo de câncer ósseo mais comum em crianças e adolescentes, representando de 3% a 5% de todas as neoplasias na faixa etária de 0 a 19 anos. É um tumor maligno que se desenvolve a partir do crescimento descontrolado dos osteoblastos, as células responsáveis pela formação do tecido ósseo.
Este tumor tem uma característica marcante, ele afeta principalmente jovens em fase de crescimento acelerado, com pico de incidência entre 10 e 19 anos, sendo mais frequente em meninos. Os ossos longos, especialmente na região do joelho (fêmur e tíbia) e na parte superior do braço próximo ao ombro (úmero), são os locais mais comumente afetados.
Por que na adolescência?
Não é coincidência que o osteossarcoma atinja principalmente adolescentes. A doença se desenvolve justamente quando os ossos estão crescendo mais rapidamente, durante os famosos "estirões" da puberdade. Normalmente, a maioria das crianças que desenvolvem osteossarcoma é mais alta do que a média para sua idade, mas não é uma regra!.
Embora geralmente não haja um fator específico identificado, algumas condições podem aumentar o risco:
- Síndromes genéticas hereditárias, como a síndrome de Li-Fraumeni e mutações no gene RB1 (associado ao retinoblastoma bilateral)
- Exposição prévia à radioterapia para tratamento de outros tipos de câncer
- Doenças ósseas crônicas, como a doença de Paget (mais comum em adultos acima de 50 anos)
Esses sinais não podem ser ignorados!
A grande armadilha do osteossarcoma é que seus primeiros sintomas podem ser facilmente confundidos com situações corriqueiras da infância e adolescência. Por isso, é fundamental que pais, responsáveis, professores e profissionais de saúde estejam atentos aos seguintes sinais:
Dor óssea persistente
A dor é o sintoma mais comum, relatada por 95% dos pacientes. No início, pode ir e voltar, mas com o tempo se torna mais constante e intensa. Um detalhe importante: a dor costuma piorar à noite — diferente da dor muscular comum, que geralmente melhora com o repouso.
Inchaço ou nódulo
Pode surgir um inchaço, edema ou sensibilidade próximo a uma articulação. A área pode ficar quente e avermelhada. Este inchaço tende a aumentar progressivamente.
Limitação de movimento
Dificuldade em mover a articulação, o membro afetado devido à dor ou ao inchaço. Com o tempo, a doença pode progredir a ponto de interromper as atividades diárias.
Fraturas sem causa aparente
O osso enfraquecido pelo tumor pode fraturar espontaneamente, com trauma mínimo ou até mesmo sem trauma aparente, as chamadas fraturas patológicas.
>>> ATENÇÃO: se seu filho apresentar dor óssea persistente que não melhora com o tempo, especialmente se piorar à noite, procure um médico imediatamente. O que parece ser "dor de crescimento" pode exigir uma investigação mais aprofundada com um raio-x.
Por que o tempo é tão precioso?
Aqui está a informação mais importante deste artigo: o diagnóstico precoce faz toda a diferença. Estudos nacionais e internacionais demonstram que:
- Quando o tumor é diagnosticado precocemente e adequadamente tratado, a taxa de sobrevida em cinco anos pode ser superior a 80%
- Pacientes com osteossarcoma localizado que pode ser completamente removido cirurgicamente têm uma chance de 65% a 70% de cura a longo prazo
- Quanto menor for o tumor ao ser descoberto, melhor o prognóstico e maior a chance de preservar o membro afetado, evitando amputações
- Quando a doença já se espalhou (metástase) no momento do diagnóstico, o que ocorre em cerca de 20% a 25% dos casos, a taxa de sobrevida cai para aproximadamente 30%
O pulmão é o principal órgão afetado pelas metástases, seguido por outros ossos. O problema é que, quando ocorre metástase pulmonar, raramente há sintomas respiratórios inicialmente, sendo muitas vezes descoberta apenas nos exames de estadiamento.
Como é feito o diagnóstico?
Se há suspeita de osteossarcoma, o médico pode solicitar:
- Raio-x: Geralmente é o primeiro exame, podendo mostrar alterações características no osso
- Ressonância Magnética ou Tomografia Computadorizada: Oferecem imagens detalhadas do tumor e das estruturas ao redor
- Cintilografia óssea ou PET-CT: Avaliam a extensão da doença e possíveis metástases
- Exames de sangue: Podem mostrar alterações nos níveis de fosfatase alcalina e lactato desidrogenase
- Biópsia: É o exame definitivo, que confirma o diagnóstico através da análise microscópica de uma amostra do tumor
Uma jornada multidisciplinar!
O tratamento do osteossarcoma evoluiu significativamente nas últimas décadas e envolve uma equipe multidisciplinar composta por oncologistas pediátricos, ortopedistas oncológicos, cirurgiões, radiologistas, patologistas, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais especializados.
A abordagem em três fases:
1. Quimioterapia neoadjuvante (pré-operatória) O primeiro passo costuma ser a quimioterapia, administrada antes da cirurgia. Os objetivos são:
- Reduzir o tamanho do tumor, facilitando a cirurgia
- Atacar possíveis micrometástases (células cancerosas microscópicas que podem já ter se espalhado)
- Avaliar a resposta do tumor ao tratamento
2. Cirurgia O procedimento cirúrgico visa a remoção completa do tumor com margens de segurança. Atualmente, em muitos casos é possível realizar cirurgias conservadoras que preservam o membro, utilizando:
- Enxertos ósseos (do próprio paciente ou de banco de ossos)
- Endopróteses (próteses internas especiais que substituem a porção óssea removida)
A amputação é indicada apenas quando não é possível preservar o membro mantendo margens cirúrgicas seguras, ou seja, quando manter o membro comprometeria as chances de cura.
3. Quimioterapia adjuvante (pós-operatória) Após a cirurgia, novas sessões de quimioterapia são administradas para eliminar possíveis células tumorais remanescentes.
E a radioterapia?
A radioterapia não é frequentemente utilizada no osteossarcoma porque esse tipo de célula cancerosa não responde facilmente à radiação. Pode ser indicada em situações específicas, como quando o tumor não pode ser completamente removido ou está em locais de difícil acesso cirúrgico, como ossos da face ou pélvicos.
Novos horizontes no tratamento
A ciência não para de avançar, e novas abordagens terapêuticas estão sendo estudadas:
- Terapias-alvo: medicamentos que atacam características moleculares específicas das células cancerosas
- Imunoterapia: utiliza o próprio sistema imunológico do corpo para combater o câncer
- Protocolos aprimorados: estudos contínuos buscam otimizar as combinações de medicamentos e abordagens cirúrgicas
Vida após o tratamento!
O fim do tratamento não significa o fim dos cuidados. Os pacientes precisam de acompanhamento regular para:
- Monitorar possíveis recidivas (o câncer volta em cerca de 30% dos casos, geralmente nos pulmões)
- Avaliar a função musculoesquelética e a mobilidade
- Verificar o funcionamento das próteses ou enxertos
- Monitorar efeitos tardios da quimioterapia (como problemas auditivos, cardíacos ou renais)
A boa notícia é que a maioria dos sobreviventes de osteossarcoma relata boa função física e qualidade de vida ao longo do tempo, especialmente quando o tratamento é iniciado precocemente.
O recado mais importante
Se há uma mensagem que deve ficar gravada após a leitura deste artigo é: não ignore sinais persistentes. Aquela dor no joelho que não passa, o inchaço que só aumenta, a dificuldade crescente para realizar atividades rotineiras, tudo isso merece atenção médica.
Como pais, responsáveis, educadores e profissionais de saúde, nosso papel é estar vigilantes sem sermos alarmistas. A maioria das dores ósseas na infância e adolescência tem causas benignas, mas uma avaliação médica adequada, incluindo um simples raio-x quando indicado, pode fazer toda a diferença.
O diagnóstico precoce do osteossarcoma pode significar:
- Maior chance de preservação do membro
- Melhores taxas de sobrevida
- Tratamentos menos agressivos
- Melhor qualidade de vida futura
- Ao menor sinal de alerta, procure um médico imediatamente. O tempo é precioso quando falamos de câncer infantojuvenil.
Referências
Instituto Nacional de Câncer (INCA). Osteossarcoma - Versão para profissionais de saúde. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/infantojuvenil/especificos/osteossarcoma/versao-para-profissionais-de-saude
Hospital de Amor. Osteossarcoma: sintomas, diagnóstico e tratamento. Disponível em: https://hospitaldeamor.com.br/site/tag/osteossarcoma/
St. Jude Children's Research Hospital. Osteossarcoma em crianças e adolescentes. Disponível em: https://together.stjude.org/pt-br/sobre-o-câncer-pediátrico/tipos/osteossarcoma.html
A.C.Camargo Cancer Center. Osteossarcoma. Disponível em: https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/tipos-de-cancer/osteossarcoma
Castro HC, et al. Osteossarcoma: experiência do Serviço de Oncologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Rev Paul Pediatr. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbort/a/Lq9GhTDskMCv948fmDWcnvL/
Revista Brasileira de Ortopedia. Avaliação dos fatores prognósticos e sobrevida de pacientes com osteossarcoma. Disponível em: https://www.rbo.org.br/detalhes/1519/pt-BR/
Dr. Roberto Pestana. Osteossarcoma: conheça as causas e os sintomas. Disponível em: https://robertopestana.com.br/osteossarcoma-conheca-as-causas-e-os-sintomas/
Instituto Oncoguia. Taxa de Sobrevida para Osteossarcoma. Disponível em: https://www.oncoguia.org.br/conteudo/taxa-de-sobrevida-para-osteossarcoma/8695/433/
-> AVISO IMPORTANTE: Este artigo tem caráter informativo e educacional. As informações aqui contidas não substituem uma avaliação médica presencial. Apenas um profissional de saúde qualificado pode realizar diagnósticos, prescrever tratamentos e fornecer orientações específicas para cada caso. Em caso de dúvidas ou sintomas, procure sempre um médico.